terça-feira, novembro 28, 2006

Ditadura do relativismo

É a expressão de Bento XVI para caracterizar o regime filosófico imposta ao mundo contemporâneo. Desde o início do Conclave que o elegeu, o então Cardeal Joseph Ratzinger vem despertando os fiéis para responder a esse iníquo sistema, sintoma de uma sociedade que abdicou do pensamento.

Não poderia o Papa cunhar sentença mais feliz: ditadura do relativismo. Relativismo porque a idéia central é a ausência da verdade absoluta, tese já velha, que vem do século XVII. Mas é ditadura, também, e aqui está a novidade, pois é proibido sustentar o contrário. Todos têm um direito a tudo (até ao erro), menos direito a pensar que essa liberdade de errar é mera tolerância. Tudo, então, é relativo, exceto o próprio relativismo – e aí a petição de princípio. Já que a verdade é relativa, qualquer um é livre para acreditar no que quiser, menos defender que ela seja absoluta. Se o relativismo é um erro, pior ainda o que não admite que a ele alguém se oponha.

Conseqüência lógica dos ideais iluministas – porque assim eliminam-se os adversários de seu errôneo programa –, parece tal cerceamento uma contradição. Sim, pois se a liberdade é absoluta e a verdade relativa – portanto, todas as idéias são igualmente aceitas –, por que os defensores da liberdade relativa e da verdade absoluta são perseguidos? Então a liberdade não é tão absoluta, nem a verdade tão relativa!

O que está por trás disso não é o amor à liberdade, mas o ódio à verdade. Sob a capa de uma liberdade absoluta – que, aliás, seria imoral –, esconde-se a mais terrível das tiranias.

Na realidade, nem os que propugnam a verdade relativa nela acreditam. Pensam, no fundo, que ela é absoluta – pois negam a liberdade a seus opositores. Sua agravante é a hipocrisia. E a hipocrisia – atroz e autoritária – é sua arma principal.

Em guerra estão dois exércitos. O bem e o mal. A luz e as trevas. Os que dizem, com todas as letras, que a verdade é absoluta e a propõem aos homens, e os que também acham que é absoluta, mas disfarçam-na de relativa, e, desse modo, a impõem a todos.

Temos de reagir, antes que seja tarde.

Carlos d’Áustria. Quem tem medo do beato?

Pressionado por Napoleão, o Imperador Francisco II de Habsburgo abdicou do trono do Sacro Império Romano Germânico, o que fez surgir os Estados alemães setentrionais independentes, logo reagrupados na Confederação do Reno e, mais tarde, no Império Alemão, o II Reich do Kaiser e de Bismarck. A Áustria, terra natal da Casa de Habsburgo, converteu-se, com o apoio do sul da Alemanha e das possessões italianas e balcânicas do antigo Sacro Império, na sucessora deste. O novel Império Austríaco erigia-se em continuador da história e das tradições daquele que o laicismo napoleônico pretendia destruir.

Como do Império de Carlos Magno broto o de Otão I – governado, a partir de 1438, pelos austríacos Habsburgo –, do último, fragmentado, nasceu o que viria a encarnar, como os precedentes, os valores cristãos e humanistas, e, apesar dos percalços, dos absolutismos, e dos erros comuns a qualquer agrupamento social, o passado de glórias medievais. O Sacro Império e o Império Austríaco, ambos sob os Habsburgo, seriam símbolos da ordem celeste no campo secular.

Exatamente por isso, as mesmas forças revolucionárias – Napoleão foi o responsável pela internacionalização do laicismo francês de 1789 – que destruíram o Sacro Império, mancomunaram-se, finda a I Grande Guerra, para a supressão do Império Austríaco, que lhe tomou o lugar. O ódio à Áustria tradicional era herdeiro da aversão ao I Reich inaugurado por Otão. Na realidade, o combate mais profundo se travava contra a Fé Católica, protegida primeiro pelo Sacro Império, depois, com a queda deste, pelo Austríaco. Aproveitaram-se os laicistas das culpas do governo (não do Estado) contra as minorias eslavas para decretar o fim de uma dinastia.

Ressaltando o papel do último Imperador da Áustria, João Paulo II o beatificou em 2004. Carlos I de Habsburgo, católico fidelíssimo ao Papa, de vigorosa vida de oração e senso de apostolado, não só cultivou heroicamente as virtudes em um tempo dos mais confusos e decisivos para a Cristandade – em que ruíram, além do católico Império Austríaco, o protestante Império Alemão (sucessor da Alemanha desunida por ocasião da queda do Sacro Império), e o ortodoxo Império Russo dos czares –, como se impôs contra os desmandos e abusos de seus ministros. Estes, interessados em continuar a aliança com a Alemanha e a guerra contra o restante do Ocidente para alargar seu sufocante despotismo sobre a Europa, isolaram Carlos, seu monarca, por influência de Bento XV, Papa da época, desejava cessar os combates. Percebeu o Imperador que os motivos da luta não eram justos e sua consciência cristã, formada aos pés do Santíssimo Sacramento, tencionou, de um modo que, ao mesmo, não sacrificasse sua soberania e fosse o mais prudente possível, acabar com a I Guerra Mundial. Na prática, os opositores, que ocupavam o governo de seu próprio país, o apeariam do trono, aliando-se aos liberais, que não toleravam uma Áustria sacral, pujante e militantemente católica. O fim do Império dos Habsburgo tornou-se, assim, um duro golpe nos direitos da Igreja e da paz, e um decisivo passo para, abatida a fiel casa dinástica, popularizar-se a cartilha iluminista na Europa do pós-guerra.

Os que forçaram a queda do Sacro Império e explodiram a Áustria monárquica são hoje os adversários da futura canonização de Carlos I, inventando legendas negras e atribuindo-lhe a pecha de belicista, autoritário e culpado pela deflagração mundial. Nada mais equivocado – é o que afirmam historiadores sérios e descomprometidos com as ideologias da moda, como Giuseppe Dalla Torre, reitor da Universidade Maria Ssma. Assunta, de Roma, que atribui à opinião pública anticlerical a orquestração contra a santidade do Imperador: “uma opinião pública”, acrescenta, “que foi substancialmente a mesma que impediu Carlos de levar a cabo seus projetos de paz do exterior e de reformas dentro do império austro-húngaro, e que o conduziu à perda do trono.” (Zenit, 7/1/05)

A oposição à beatificação de Carlos I é resultado do ódio à fé e à Europa profunda, da ação laicista e anticristã contra o Estado católico por excelência que era a Áustria, o qual é urgente que seja restaurado (pela evangelização da sociedade e recuperação dos valores próprios e naturais de seu povo). A santidade também pode ser alcançada pelos soberanos, e os Estados, se desejam representar, com legitimidade, as sociedades que neles se inserem, não devem se furtar à benéfica influência da fé popular. É a isso que os inimigos dos Habsburgo e do Beato Carlos, ontem como hoje, tanto se opõem.

segunda-feira, outubro 30, 2006

Eutanásia: assassinato disfarçado

Muito se comenta sobre a eutanásia, com opiniões favoráveis ou contrárias, porém pouco se diz sobre o que ela é realmente. Imperioso, assim, precisar o termo, afastar diferenças, marcar bem as nuances.

Eutanásia é a ação ou omissão que, na intenção ou por si, produz a morte, no intuito de aliviar um sofrimento ou uma dor. Pelo conceito, vemos que pode ser ativa (ação) ou passiva (omissão). Não ministrar os alimentos devidos ou a água a um paciente (como no caso da moribunda Terry Schiavo), deixar de prestar os cuidados normais ao doente, são exemplos de eutanásia passiva – quanto à ativa, restam mais facilmente aferíveis: aplicar uma substância mortífera qualquer, desferir um golpe etc.

Não confundamos, entretanto, a eutanásia passiva com a mera “interrupção de procedimentos médicos onerosos, perigosos, extraordinários ou desproporcionais aos resultados esperados”, que, conforme o caso, “pode ser legítima” (Catecismo da Igreja Católica, 2278). É o que se chama ortotanásia, e, como vemos, não é necessariamente imoral. Embora pareça, a princípio, com a eutanásia passiva, dela se difere por ser um modo de “rejeição da ‘obstinação terapêutica’. Não se quer dessa maneira provocar a morte; aceita-se não poder impedi-la.” (op. cit.)

Sem levar em conta os matizes próprios, alguns atacam a Igreja, acusando-a de ser contrária também à ortotanásia, prolongando artificial e inutilmente a vida, sendo, portanto, destituída de misericórdia para com os agonizantes. Nada mais falso, podemos observar pelo Catecismo. O próprio Papa João Paulo II preferiu abdicar dos meios extraordinários, vindo a falecer em seu apartamento no Palácio Apostólico.

Por outro lado, não faltam os que, ainda confundindo a eutanásia passiva com a ortotanásia, tiram conclusão diversa, quiçá mais nefasta. A de que só a ativa seria imoral, e que, de modo passivo, poder-se-ia interromper a vida – sem atentar para o colossal abismo entre o deixar de dar comida por uma sonda, v.g., procedimento absolutamente ilícito, e a referida rejeição da obstinação terapêutica, perfeitamente moral.

Se a ortotanásia é uma expressão da caridade cristã e da conformidade piedosa aos planos de Deus, a eutanásia, ainda que passiva, é um modo horrendo e radical de institucionalizar o egoísmo. A legalização da eutanásia, defendida por alguns, mostrará que nossa sociedade está gravemente enferma ao oficializar o assassinato, justo dos mais necessitados de cuidados especiais.

Ideologização da universidade

Um monstrengo de claríssimas feições soviéticas ameaça, como nunca, o ensino superior no país. Atendendo pelo nome de reforma universitária, o pacote de medidas, proposto pelo MEC faz certo tempo, presta-se mais a uma deforma.

Não estranhamos nada. Já era previsto que, ao tomar o poder, o PT (que tudo sabe e tudo pode, como o “Moderno Príncipe” de Gramsci, pensador-mor do comunismo italiano, e de cujas teorias os petistas nunca esconderam se embriagar) iria investir com tudo na utilização da educação para difundir sua ideologia, impor uma pedagogia de esquerda, enfraquecer a autonomia universitária, e transformar a escola e a academia em espaços políticos facilmente controláveis por seus asseclas aparelhados no Estado, nas ONGs financiadas com dinheiro público e nos sindicatos ao partido ligados mediante os tais movimentos sociais. Semelhante realidade ocorreu no Rio Grande do Sul durante o trágico governo Olívio Dutra, em que até os concursos públicos para seleção de professores continham questões tendenciosas, próprias para aprovar os afinados com a cartilha socialista do PT, pouco importando, salvo raras exceções, que um candidato “de direita” ou “das elites” fosse tão preparado quanto aqueles .

Primeira ação do MEC vermelho, ainda com Cristovam Buarque, que depois migrou para o igualmente socialista PDT, foi o desmonte do Provão – instrumento questionável em certos aspectos, mas ao menos confiável na medição do aproveitamento, dado que 100% dos formandos dos cursos avaliados eram a ele submetidos, e que forçou as instituições a se qualificarem – e sua substituição pelo obscuro ENADE, que avalia conforme duvidosas amostragens e vem sendo duramente criticado por especialistas não comprometidos com as doutrinas petistas.

Outro absurdo, que o MEC inclusive comemora (!!!), em seu site na internet, é o fim da GED, a Gratificação de Estímulo à Docência, sob a alegação de que o professor, por ter obrigação de ensinar e trabalhar, não deve ser estimulado com remuneração. Ora, a GED premiava quem mais produzia, quem ensinava no período noturno, quem acumulava mais horas-aula, quem tinha melhor desempenho. Com a GED, tinha-se em mente alcançar a excelência acadêmica. Sem ela, regredimos ao culto da improdutividade (pois, pela ótica petista, a produção de molde capitalista deve ser combatida). A ideologia torna-se mais importante do que a qualidade do ensino.


Enfim, com o trotskista Tarso Genro, veio a bomba, por ora esquecida em decorrência dos escândalos de corrupção: a “deforma” universitária.

Prevê a mesma a eleição direta para reitor, atacando a liberdade das instituições (princípio fundamental mesmo nas universidades estatais), tornando tal cargo facilmente permeável a pressões político-sindicais “que nada têm a ver com a produção do saber.” (Rui Nogueira, in Primeira Leitura, abril/2005, p. 30).

Estabelece cotas para egressos de colégios públicos, negros e índios – tema que já enfrentei neste e noutros espaços –, privando quem tem mais mérito (por alcançar maior nota no vestibular) em detrimento de quem menos, igualando os desiguais, em moldes marxistas. Nesse sentido, é pertinente o alerta de um dos mais cultos juristas do Brasil, Dr. Ives Gandra Martins, presidente da Academia Paulista de Letras: “a título de colocar carentes, índios e negros na Universidade, (...) retiram a oportunidade de 10% dos alunos que poderiam entrar por mérito.” (JB, 24/02/05) Mesmo o Papa João XXIII, beatificado, já ensinava que “se deve facilitar o acesso aos graus mais altos da instrução segundo os méritos pessoais.” (Enc. Pacem in Terris, Denz. 3960) Que desenvolvimento social é esse que despeja na faculdade alunos despreparados? E que justiça é essa que tolhe as oportunidades de quem, por nota, esforço e estudo, merece estar nos bancos universitários? É o desabafo de uma estudante: “Sou negra, e entrei para a faculdade sem precisar de cotas. (...) Se o não-negro dispensa cotas (...), por que nós negros precisamos?” (OESP, 12/12/04)

Não esqueçamos, também presentes no texto do anteprojeto, dos diversos conselhos que devem ser instalados nas instituições. É uma mania de conselho para lá, conselho para cá, bem à moda de Lênin, na processo de comunização da Rússia. Todos com participação de pessoas estranhas à comunidade acadêmica (como os servidores não-professores) e mesmo à própria universidade em si (a tal “participação da sociedade civil”). Ora, a função do ensino superior não é “produzir métodos supostamente democráticos de decisão” (Nogueira, loc. cit.), mas alcançar a excelência pela produção do saber.

Ao invés de centros de elite, no melhor sentido do termo, i.e., de locais destinados especificamente à formação dos líderes intelectuais do país, função essa de toda universidade, as faculdades brasileiras, com a pseudo-democracia imposta pelos totalitários com sua reforma, tendem a perder o que há de fundamental na missão do ensino superior, a preparação de qualidade.

Essas as deficiências... E nem falamos da perturbação na gestão interna das universidades, no cerceamento das instituições particulares (em sério atentado à propriedade privada) e na inobservância do princípio da subsidiariedade.

Em qualquer lugar do mundo desenvolvido, universidade boa é universidade livre. Por aqui, a mão pesada do Estado absolutista do PT, não contente em destruir os próprios centros públicos, acelera seu sucateamento para servir a fins ideológicos, e meter-se, indevidamente, com as faculdades privadas, na contramão das lições que a Europa e os EUA nos dão.


Com Lula reeleito, o que será da educação superior? Construir mais universidades públicas para multiplicar a ineficácia?


sexta-feira, outubro 13, 2006

Nós, a maioria

Somos 75% do povo brasileiro. Nossa voz não pode, portanto, ser desprezada. Não formamos uma simples parcela da população, mas constituímo-nos em hegemônica fatia dos que aqui habitam.

Mais do que isso, nossos costumes e cultura estão presentes até mesmo entre os que não partilham totalmente de nossa visão de mundo. Todas as instituições pátrias guardam a saudável influência que de nós receberam. Nossa própria história confunde-se com a história nacional.

Sob o pretexto de um absurdo Estado laico, que não reflete as aspirações de uma sociedade religiosa como a nossa, não podemos ser ignorados.

Como qualquer outro segmento, temos reivindicações. Nossa opção de fé nunca poderá um entrave para o acesso à vida pública. Simplesmente nos é impossível deixar nossos símbolos, nosso credo e nossas convicções no lar ou na sacristia, abstendo-nos da manifestação das idéias que professamos. Por que os pró-aborto, os militantes homossexuais, os comunistas, os neo-iluministas, os defensores da eutanásia, os distribuidores de preservativos, os ateus, têm pleno direito de sair às ruas, expressar o que pensam e procurar convencer os políticos e os cidadãos da legitimidade de seus programas, quando a mesma liberdade nos é negada, a nós, maioria esmagadora nesse Brasil que se pretende democrático? Aos que argumentam que não nos foi cassado direito algum, contra-ataco: na teoria não, e sim na prática. Esboçamos uma opinião, somos vaiados pela minoria barulhenta. Tentamos mostrar as razões de nosso pensamento, investem, qual lobos furiosos, contra nós. E a fúria é dirigida não ao que pensamos, mas à "audácia" de tornar público o pensamento. Parece que todos podem dar seu pitaco sobre o que não entendem (vj's da MTV, atores globais, formadores de opinião), exceto nós, os 75% da população.

Temos propostas. Temos direitos. E trabalharemos, pacificamente, de modo ordeiro e legal, para vê-los triunfar. Queremos a total proibição do aborto e do assassinato de embriões humanos; queremos o respeito à propriedade privada produtiva e à legítima defesa (inclusive com o recurso às armas); queremos a manutenção e o reconhecimento do casamento como vínculo indissolúvel entre um homem e uma mulher, e a ajuda do Estado às famílias numerosas; queremos ensino religioso confessional nas escolas oficiais, para que os filhos sejam educados segundo a vontade dos pais; queremos os crucifixos nos prédios estatais para lembrar o Estado da submissão que deve a Deus; queremos o respeito às raízes culturais e religiosas de nossa pátria e as leis civis submetidas à Lei do Criador e ao direito natural. Somos a maioria. Somos católicos. Apostólicos. Romanos!

Algumas questões sobre o Instituto Bom Pastor

Alguns leitores nos escreveram, um tanto perturbados com os comentários que o Prof. Orlando Fedeli, presidente da Associação Cultural Montfort, em São Paulo, proferiu acerca da recente e jubilosa ereção Instituto Bom Pastor. Fazem parte dele pessoas que querem celebrar a liturgia tal e como estava em vigor na Igreja latina até o ano 1962.

Segundo notícia da Agência Zenit, essa nova entidade foi erigida para promover a chamada Missa “tradicional” e possibilitar o ingresso daqueles sacerdotes particularmente ligados a essa disciplina litúrgica. “Cinco sacerdotes e seminaristas, que em sua maioria haviam pertencido à Fraternidade Sacerdotal São Pio X, fundada pelo arcebispo Marcel Lefebvre, regressaram à comunhão plena com a Igreja Católica e fundaram o Instituto do Bom Pastor (...) O cardeal Ricard, que é também presidente da Conferência Episcopal da França, explica que «o próprio Papa tomou a decisão de erigir este novo Instituto. Nesta decisão, dá-se a vontade de propor uma experiência de reconciliação e de comunhão que terá que afirmar e aprofundar-se com os fatos. Por este motivo, os estatutos deste Instituto são aprovados ‘ad experimentum’ por um período de cinco anos».”. (ZP06091008)

O sacerdote designado como Superior Geral do Instituto Bom Pastor, Pe. Philippe Laguérie, em seu discurso proferido na igreja de Saint Eloi, dia 10 de setembro de 2006, deu importantes pistas acerca do funcionamento desta sociedade de vida apostólica. Entretanto, o caríssimo Prof. Fedeli foi impreciso, ao ver nessas pistas tendências tradicionalistas e não tardou para, distorcendo as palavras do reverendo padre em questão, concluir que os membros do Instituto Bom Pastor têm o direito estatutário de criticar a doutrina do Vaticano II.

Será que é isso que está dito no discurso? Vejamos.


Há questões teológicas pontiagudas, em particular aquelas concernentes ao Concílio Vaticano II. Sobre este ponto nós temos a obrigação, também, o que é inesperado, de trabalhar, sob a condução do Papa, pois somente ele pode fazer isso, de restabelecer a autenticidade da doutrina católica”.

Aqui não há nada de novo. Realmente, há questões pontiagudas em relação ao Vaticano II. Com isso, entretanto, não se está criticando o Concílio, ou dizendo-o sem autoridade, como sustentam os tradicionalistas.

Há, isso sim, uma constatação de que nem tudo é tão fácil de se entender nos documentos conciliares, e que, por causa disso, existem interpretações errôneas, as quais geram tais questões. Importante ressaltar que o trabalho do Instituto Bom Pastor em discutir essas questões, diferentemente da Sociedade São Pio X, se fará “sob a condução do Papa”. Reconhece-se, outrossim, que “somente ele pode fazer isso”. É um substancial avanço!

“Quero dizer com essas palavras que tudo o que há de ambíguo, e até de falso, deve ser restabelecido por nós, tendo em vista dar por fim uma autêntica interpretação desse Concílio. O que supõe de outro lado que essa interpretação não existe totalmente ainda, e vou dar alguns exemplos: a liberdade religiosa fez escorrer muita tinta, vós o sabeis, e efetivamente, há coisas aparentemente e textualmente contraditórias com o Magistério precedente. O Papa Bento XVI, quando era ainda o Cardeal Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, retificou essa doutrina, quando esteve na Argentina em 1988, por ocasião das sagrações feitas por Monsenhor Lefebvre”.

O Superior Geral do Instituto recém-criado em nenhum momento afirma que o que há “de falso” se deve ao Concílio, mas dá a entender que tal se deve às interpretações errôneas que alguns dele fizeram. Tanto isso é verdade que, na mesma frase, continua explicitando sua intenção de “dar por fim uma autêntica interpretação desse Concílio”. Ora, se há uma legítima interpretação, o erro está na má interpretação, e não no Vaticano II em si. Mais adiante, outrossim, o Pe. Laguérie menciona que “que essa interpretação não existe totalmente ainda”. Pelo contexto, percebe-se claramente sua intenção não de atacar o Vaticano II (como pretendem os tradicionalistas, notadamente da SSPX, e como parece interpretar, a nosso ver erroneamente, o Prof. Orlando Fedeli), mas de interpretá-lo corretamente, de modo a harmonizar seu ensino com o Magistério perene. Aliás, essa tarefa sempre foi louvada pelos Papas, e mesmo levada a cabo por Paulo VI e, mais propriamente, por João Paulo II.

Não se alegue que, além do termo “aparentemente”, o referido sacerdote tenha empregado “textualmente” para designar o que muitos chamam de contradições entre o Concílio e o “Magistério precedente”. Que existam contradições aparentes entre eles, não o negamos. Mas apenas aparentes. O “textualmente” do Pe. Laguérie indica não uma contradição real, e sim no texto, na leitura. “Textualmente” não está, no seu discurso, como contrário de “aparentemente”. O antônimo de “aparentemente” é “realmente”, vocábulo que não aparece no discurso do padre.

“Eu não desejaria aqui entrar nos pormenores da Teologia, mas, enfim, eu vos citarei ainda um outro exemplo, o famoso, ‘subsistit in’. Está dito, no Concílio Vaticano II que a Igreja fundada por Cristo subsiste na Igreja Católica. Enquanto que a doutrina tradicional é evidentemente que a Igreja fundada por Cristo, é a Igreja Católica”.

Mais uma demonstração de que o Superior do Instituto Bom Pastor não quer atacar o Vaticano II nem o considera como errôneo ou favorecedor do erro. O tema do “subsistit in”, complicadíssimo a ponto de Leonardo Boff defender que, por ela, se entendia uma espécie de fraternidade espiritual de comunidades cristãs como a Igreja fundada por Jesus, foi definitivamente interpretado pela Igreja, em seu Magistério autêntico, na Dominus Iesus. Dando o exemplo de um assunto, no qual havia uma contradição aparente e textual entre o Concílio e o Magistério precedente, a qual, contudo, foi sanada pela correta interpretação da Igreja, o Pe. Laguérie nega, implicitamente, que aquela contradição seja real. Noutros termos, aparente e textual, mas nunca real!

O sacerdote mesmo diz, a certa altura, que sua sociedade de vida apostólica tem, por seus estatutos, “o dever de criticar, de dar a verdadeira interpretação do Concílio Vaticano II”. Não é uma crítica ao próprio Vaticano II, pois se assim o fosse não se poderia dar a verdadeira interpretação do Concílio. E já que esta que se busca, a crítica, evidentemente, é dirigida às falsas interpretações, e não, repetimos, ao Vaticano II.

No próprio site do Centro São Paulo, ligado ao Bom Pastor, há a informação de que “conforme o discurso do Papa Bento XVI à Cúria Romana em 22 de dezembro de 2005, os membros do instituto, quanto a isso, estão comprometidos a uma ‘crítica séria e construtiva’ do Concílio Vaticano II, para permitir à Sé Apostólica dar a interpretação autêntica.” A crítica é, pois, construtiva, e visa não a negar o Vaticano II nem a atacar sua doutrina, seus documentos, mas a auxiliar o Papa para dar uma interpretação do Concílio à luz da Tradição. Ora, para os tradicionalistas, para a SSPX, para a Montfort, do Prof. Fedeli, não há como interpretar o Vaticano II de modo ortodoxo, não existe uma interpretação autêntica à luz da Tradição, não há como fazer uma crítica construtiva de um Concílio que, para eles, foi um desastre, um produtor de idéias errôneas, um facilitador do modernismo. Vemos bem quanta diferença entre tais atitudes e a dos membros do Instituto Bom Pastor. Estes últimos não irão atacar o Vaticano II, acusá-lo de modernismo, de progressista, de herético, de ilícito, nem pretendem negá-lo ou dizer que a única maneira de interpretá-lo é à moda da teologia liberal. Pelo contrário! Sua missão, dizem os estatutos, é fazer uma crítica séria e construtiva (não ao Concílio, já se viu, mas do Concílio, i.e., a certas imprecisões na forma dos documentos e nas interpretações heterodoxas que a eles se deu por parte dos progressistas, e não à doutrina conciliar, que é a mesma de sempre), é ajudar a Santa Sé a, corrigindo as más interpretações, e clareando bem os pontos que não são bem entendidos por todos, fornecer uma correta aplicação de sua doutrina, da riqueza de seus documentos.

São um pouco equivocadas, portanto, as conclusões que o Prof. Fedeli tira do discurso do Pe. Laguérie, de que o Instituto Bom Pastor teria a tarefa de atacar o Vaticano II.

Este último é, e será sempre, um Concílio válido e legítimo da Igreja, e emanação de seu Magistério Ordinário, o qual, por apresentar, embora com novos termos (alguns textual, mas só aparentemente, ambíguos), a doutrina de sempre, reveste-se não somente de obrigatoriedade aos fiéis por religioso assentimento, porém de infalibilidade, o que exige fé divina e católica.

terça-feira, agosto 29, 2006

Democracia absolutista

Inegável que a democracia seja um valor. O erro moderno, contudo, é considerá-la valor absoluto, ao qual tudo o mais pode e deve ser sacrificado. Como toda idéia que tende a sobrepor-se à realidade, também a democracia corre o risco de tornar-se ideológica.

A análise dos fatos mais evidentes – e um mínimo de filosofia clássica, não sua deturpação sectária e iluminista ministrada em sala de aula, pode ajudar nesse sentido – fornece-nos um dado irrefutável: nem tudo é motivo de escolha, nem tudo deve ser eleito por uma maioria. Nisso está que a verdade, o bem, não são objetivos de pleito democrático algum!

Como a democracia, também a monarquia e a aristocracia são valores, segundo o esquema aristotélico-tomista. Livres somos para a adoção de um ou outro, bem como para mesclar as três formas ou duas delas. Equivoca-se o monarquista, v.g., quanto, tornando sua opção valor supremo, único, acaba defendendo a monarquia absolutista. Do mesmo modo, a democracia pode ser degenerada, convertendo-se em algo como uma “democracia absolutista”. Na monarquia absoluta, confere-se ao soberano poder de decisão sobre todas as coisas, colocando-o acima da moral e do direito. Algo semelhante ocorre com a mania contemporânea de endeusar a democracia: dá-se ao povo condições de decidir, de modo absoluto, sobre o bem e o mal, e, com isso, corrompe-se o valor, originalmente bom.

Serve a democracia para a escolha de governantes e representantes. Aí, sim, ela cumpre seu papel – que, aliás, não é único, dado que as demais formas políticas são igualmente válidas. Criamos um monstro quando o princípio democrático é transportado para outros campos, e, de relativo, seu valor torna-se absoluto. A maioria da população não tem direito algum de, por eleição, legitimar atos contra a verdade. A mentira não se muda em verdade por vontade popular. O erro não se transforma em direito. A democracia não tem, pois, o condão de autorizar, nem por unanimidade, o homicídio, o furto, o estupro.

Pelo mesmo viés, não compete ao povo nem ao Parlamento, no qual se assentam seus representantes, aprovar normas permissivas ao aborto, ao extermínio de embriões humanos, à eutanásia, ao confisco da propriedade privada, à impossibilidade – via desarmamento – do exercício da legítima defesa.

Todo o poder emana do povo? Todo? Para Heinz Krekeler, a soberania popular absoluta é uma tese jurídica perigosa, pois, a prevalecer, insinuaria que o povo (ou o Parlamento) poderia decidir acabar com a própria soberania popular, substituindo-a pela tirania aceita pela maioria. A democracia absoluta tem o poder de extinguir a democracia em si.

Se o monarca deve respeitar uma ordenação maior, sob pena de instaurar um regime absolutista, também na democracia a lei natural e a moral precisam ser observadas. Deputados, presidentes, prefeitos podem ser escolhidos pelo voto. Nunca os conceitos de verdade, de ética, de bem. Estes são pontos a guiar nossas escolhas, e não objetos das mesmas, descartáveis conforme a opinião das massas. Ainda que todos queiram o erro, não tem ele direito a triunfar!

domingo, junho 18, 2006

O verdadeiro amor

Confundem os modernos amar com ser amado. E nas novas concepções de amor expulsam os tradicionais e sábios termos e definições que a pedagogia católica nos forneceu sobre tão nobre sentimento.

Resgatando o romantismo – e o tomo no sentido filosófico e cultural –, realçam a emoção, desconfiando da razão estar intrometida nos assuntos amorosos. Ora, esquecem os postulantes dessa tese que o amor é, antes de tudo, um ato da vontade. Ama-se não por uma cegueira emocional, mas porque se quer amar. Ninguém ama o que não quer, o que não lhe atrai, de modo que a frase de que o amor é cego torna-se uma falácia. Quem ousa proferi-la ou não sabe o que é realmente o amor, ou o converteu em emocionalismo adolescente, pueril.

Longe de nós definir o amor com conceitos frios... Entretanto, não podemos esquecer que a fim do homem, a felicidade, está em ordenar suas potências, e ele o faz ao submeter os sentidos à vontade, e esta à razão, iluminada pela graça de Deus. O amor, meio do homem ser feliz e mesmo confundindo-se sadiamente com a própria felicidade, só é verdadeiro quando afastamos as concepções que o “libertam” da razão.

As emoções nunca podem ser o critério para a maturidade do amor. Começa este com uma escolha por parte do amante quanto ao amado. Desenvolve-se com o descobrimento do outro, o que confirma a primeira opção ou o convence de que a futura união não é um bom caminho. O papel da emoção, no processo amoroso, é justamente estar a serviço da razão, eis que esta é que nos fornecerá o julgamento adequado quanto ao amor – porque devo amar, como devo amar...

Amor, vemos, é uma decisão! Se Cristo nos mandou amar os inimigos, é porque temos de nos decidir a amá-los. E como amar e “sentir amor” são coisas diferentes, não somos obrigados a gostar de todos e a externar proposições românticas para qualquer pessoa. Não! O mandamento do amor é a máxima prova do conceito que tem Jesus desse sentimento: amar é desejar o bem do outro. Amamos nossos inimigos quando, a despeito de nossas diferenças quanto a eles, desejamos, sinceramente, o seu bem – mesmo que um bem a desejar para um assassino seja sua justa punição. Só se deseja o bem com a razão e não com as faculdades inferiores de uma emoção inconstante. Só a inteligência é constante!

No amor entre amigos, máxime no amor conjugal, a decisão de amar ocupa papel central, ainda que possa ser imperceptível por operação inconsciente que o seja. Mal ou bem, escolhemos estar com a pessoa amada. E a todo instante estamos fazendo novas escolhas – seja elegendo a continuidade da relação, seja rechaçando-a. Se elas forem feitas com critérios meramente emocionais, a inconstância as dominará: bastará acordarmos de mau humor ou sentir uma atração física passageira por outrem para resolvermos terminar tudo o que a razão recomendaria que permanecesse.

Não vejo nada de frio nesse conceito de amor... Pelo contrário, lembro que cada vez que digo a minha amada que a amo, não o faço por “cegueira” ou por um sopro das inconstantes emoções. Quando digo que a amo, amo-a com meu ser completo. Na prática, é como se lhe dissesse que o maior ato de inteligência que tive foi o de escolhê-la. E isso não poderia ser feito se minha escolha fosse um ato puramente emocional.

Com a razão coordenando as emoções, e tudo sob o influxo da graça de Deus, minhas decisões podem ser mais constantes, e, por isso, também meu amor. Quem se sente amado por mim, logo, sabe que, ao dizer que a amo com minha inteligência, deve estar extremamente lisonjeado!

O que é melhor: dizer para uma pessoa que seu sentimento por ela é o resultado de uma emoção passageira (e que ela nem sabe ao certo o porquê de amá-la, que é “obrigado” a amá-la), ou que é resultado de um ato livre, deliberado, intelectual? Estou com a segunda opção... É o ensino de Santo Tomás e dos maiores conhecedores da alma humana! É o recado de Bento XVI na Deus Caritas Est!

Estado laico, Nação católica!

Não consegue o Estado manter-se neutro em matéria religiosa. Esse ente abstrato, que desempenha a máxima função de autoridade na direção da esfera civil, é ocupado por homens. Mito, ficção, criação absurda de juspositivistas sem a mínima conexão com a realidade, a doutrina de que o Estado é absolutamente independente daqueles que o dirigem.

Claro, as pessoas físicas nos postos de comando do Estado não são o Estado. Todavia, daí não se afirme que as primeiras nada têm a ver com este. Se uma medida estatal posiciona-se de determinada maneira, tal só se dá porque quem a promulgou pensa exatamente assim. Nisso, um decreto de inclinação socialista será posto em ação por um governante igualmente socialista. Nada mais natural. Seria bizarro supor que o Estado é tão elevado e acima da sociedade que dela não receba influência, que consiga manter-se neutro. Impossível ao Estado a intelecção: entes abstratos não pensam!

Quem pensa é o burocrata que dirige o Estado, seja monarca seja político. E nisso não há nada de anormal. Com base nessa situação, é possível avançar.

Sabemos que ninguém é religiosamente indiferente. Ou tem determinado credo, ou cria o seu próprio com amálgamas de outros, ou é hostil à religião. Ora, se quem dirige o Estado, pessoa jurídica, é um governante, pessoa física, não haveremos de achar que, neste terreno das concepções morais e metafísicas, esse último não influenciará aquele. É inegável ao homem a incapacidade de abster-se de juízos de valor. Não pode, pois, um ente comandado pelo homem, como o Estado, deixar de ser guiado justamente por tais juízos de valor, na economia, na saúde, e também na religião.

Por isso, não existe, na prática, Estado absolutamente laico. Ou ele é religioso, adotando qualquer fé, ou é anti-religioso. Nunca indiferente. O ideal da Constituição está em desconexão com a realidade, e idéia contrária à realidade é ideologia.

Bento XVI afirma que “a tolerância, que, por assim dizer, admite Deus como uma opinião provada, mas lhe recusa o domínio público, a realidade do mundo e nossa vida, não é tolerância, mas hipocrisia.” (Homilia na abertura do Sínodo dos Bispos, 2/10/05)

Ao Estado – qualquer um – é absolutamente impossível, repetimos, assumir uma postura de indiferença à religião. Qual, entretanto, a adotará? A da sociedade a quem ele deve comandar. Sociedades cristãs pedem ou elegem representantes e dirigentes cristãos – ou que ao cristianismo não se oponham. A incompatibilidade entre o Estado laico constitucionalmente definido e a Nação brasileira, que se mantém fiel à sua cultura católica, é uma aberração que não contribui para nosso progresso. Pelo contrário, fortalece o autoritarismo dos governos cada vez mais contrários à religião da maioria, que nos querem empurrar “goela abaixo” seus abortos, suas eutanásias, seus “casamentos” gay. Sob a capa da liberdade falseada e de um inexistente Estado laico, esconde-se a atroz ditadura que não respeita a fé dos que elegeram seus magistrados.

“O nome de Deus está cristalizado na alma do povo brasileiro. Ou o Estado, deixando de ser ateu e agnóstico, reconhece o Deus do povo, ou o povo não reconhecerá o Estado.” (Cardeal Sebastão Leme, Arcebispo do RJ, em 31/05/1931)

domingo, maio 07, 2006

E a América tornou-se comunista!

Fidel Castro segue firme no comando supremo de Cuba, a ilha-prisão que envergonha o Caribe com seu sistemático desrespeito aos direitos humanos. Hugo Chávez insiste na associação dos governos de esquerda latino-americanos como contraponto a uma inexistente ameaça dos Estados Unidos – liderando eventos grotescos para externar sua falta de compostura vaiando George W. Bush –, além de conduzir com mão de ferro a política nacional-populista venezuelana e patrocinar, mundo afora, com o suado dinheiro dos seus cidadãos, as exaltações ao socialismo e aos ideais “bolivarianos” – a peça teatral em cartaz no Irã, o desfile da escola de samba no carnaval carioca etc. Nestor Kirshner empolga os argentinos com o calote no Fundo Monetário Internacional, em nítido protesto contra o capitalismo, sem embargo das políticas afinadas com o discurso moral das correntes socialistas: aborto, ataque à Igreja Católica, “casamentos” gay, eutanásia. Tabaré Vasquez é o primeiro presidente eleito no Uruguai em uma coalização pró-socialista, e já adota práticas intervencionistas na economia. Michelle Bachelet, no Chile, colhe os louros do desenvolvimento econômico – obra, na verdade, do “temível” Pinochet e seus Chicago Boys, que modernizaram as finanças chilenas nos anos 70 –, e aplica, no governo, a plataforma escondida na campanha (em entrevista ao prestigiado diário chileno La Segunda – conferir a sua edição digital em http://www.lasegunda.com/edicionimpresa/politica/detalle/index.asp?idnoticia=0220012006301S0260132, o senador socialista e ex-militante guerrilheiro do MIR, Carlos Ominami, confessou, em demonstração evidente de que ocultaram seu pensamento aos eleitores, enganando-os descaradamente: “Até o dia 15 de janeiro, tivemos que fazer um exercício muito grande de autocontenção”, mas “agora posso dizer coisas que antes não podia”, como a defesa do aborto, das uniões homossexuais, do combate aos valores familiares).


São esses os aliados de Lula em uma frente ampla de esquerdização da América Latina, conforme os pontos definidos pelo Fórum de São Paulo, grupo que reúne as organizações pró-comunistas do Continente (o leitor pode tomar mais conhecimento em
http://www.midiasemmascara.com.br/editoria.php?id=8). A este fórum adere explicitamente o PT: “Item 8: aprofundar a prática internacionalista do Partido, nos vários sentidos desta palavra: a solidariedade, as relações com organizações comprometidas com o socialismo e com outra ordem internacional, a mobilização interna e externa em torno de temas de nosso interesse, a ação parlamentar e de governos no plano internacional. (...) Item 28: Este é o motivo principal pelo qual o PT seguirá investindo suas energias na existência e consolidação do Foro de São Paulo, organização criada em 1990” (Plano de trabalho da Secretaria de Relações Internacionais do PT, no próprio site do partido: http://www.pt.org.br/site/secretarias_def/secretarias_int.asp?cod=4836&cod_sis=9&cat=8)

O que houve com o Novo Mundo? Uma nova onda de populismo varre nossas terras, sendo o povo enganado por utopias que não deram certo em lugar algum do mundo; por planos (aborto, por exemplo) que vão contra suas mais caras concepções de vida; por chefes de Estado que, como Bachelet, mentem para se eleger; por ímpetos de nacionalismo, como o de Evo Morales, ao estatizar as petrolíferas na Bolívia, sem indenização à propriedade de outrem, nem satisfação a ninguém – some-se a isso a pirotecnia do exército boliviano que ocupou as instalações da Petrobras, e a assustadora vênia de Lula ao enorme prejuízo que causou ao Brasil seu colega e comparsa na comunização latino-americana. De fato, o presidente da República declarou ser “direito da Bolívia” nacionalizar o petróleo: noutros termos, é perfeitamente normal para Lula tomar o que é dos outros, exatamente como o MST, seu velho aliado e afilhado vem fazendo. Não nos surpreende, claro, pois é ponto-chave no socialismo o desrespeito ao domínio privado.

O que resta a fazer?

quinta-feira, abril 27, 2006

Fundadas preocupações

Círculos de militares da reserva começam a disseminar boletins e opiniões que retratam preocupações quanto ao futuro da pátria. É sabido o receio que têm de uma eventual comunização do país, ao que não poucos – os quais talvez tenham a síndrome de Poliana, enxergando o mundo com suas lentes cor-de-rosa – respondem ser uma tolice.


Já ouvi em mais de um lugar qualificarem os alertas de nossos nobres militares como exagerados e reflexos de uma teoria da conspiração, colocando-os no mesmo saco das absurdas acusações da cúpula do PT quanto a um suposto estratagema “das elites”, que teriam inventado a história do mensalão no governo Lula para desestabilizá-lo. O que de verdade há nisso? Serão os pronunciamentos dos oficiais das Forças Armadas e das Polícias Militares insanas elucubrações, medos infundados, maluquice mesmo?

Não é o que mostra a realidade. Rápida consulta aos jornais e revistas, e breve observação dos acontecimentos, servem de base para que nos alertemos: de modo sutil e paulatino avança a revolução cultural comunista, sem ser por todos notada. E quando o é, os que deveriam engrossar o coro dos que a identificam (certa imprensa, os partidos ditos “de direita”), fazem-se de desentendidos. Mais fácil e menos comprometedor do que dizer publicamente que o que ocorre é parte de um plano socialista, é tachar tal denúncia de inverossímil.

Diante disso, vamos aos fatos. Como é corrente falar, eles não mentem.

Nunca antes, v.g., o MST e a CUT tiveram tanto poder. Aquele aumentando as invasões, marchando com o patrocínio do Estado e recebendo gordas “doações” de verbas públicas para manter sua luta indisfarçadamente comunista. Até seu discurso não é mais contra o latifúndio improdutivo, mas contra o latifúndio tão só, contra a noção de propriedade – eles, aliás, decidem o que deve ser plantado pelos outros, e os desobedientes sofrem as represálias com a destruição de culturas e pesquisas. A CUT, de outra sorte, conseguiu finalmente um assento na Esplanada dos Ministérios.

Enquanto isso, permanecem sérias restrições legais ao porte de armas pelo povo ordeiro (o desarmamento geralmente precedeu os golpes totalitários), e caminham a passos largos a reforma universitária (que não respeita os entes particulares – propriedade privada –, troca o mérito pelo paternalismo injusto das cotas, inverte as necessárias hierarquias nas faculdades, tornando-as dependentes dos ditos movimentos sociais), os intercâmbios espúrios com Cuba (a ABIN em estreita colaboração com a polícia política de Fidel Castro, o caso dos médicos cubanos sem concurso nem revalidação do diploma), os negócios sujos com a China comunista (reconhecida por Lula como “economia de mercado”, e da qual foram comprados tratores de duvidosa qualidade para doar ao MPA, ramo dos agro-socialistas), a antidemocrática violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo (em “punição” por apontar as mentiras do Ministro Palocci), a centralização do regime sob a dura batuta da ex-guerrilheira Dilma Roussef, a politização de setores do Judiciário, o vergonhoso aparelhamento do Estado, o ressurgimento da cartilha estatizante na economia, a tentativa de amordaçar a imprensa (alguém lembra do Conselho?), o crescente populismo de Lula ao estilo Hugo Chávez (e orgulhoso, como Evo Morales, de sua própria ignorância e falta de cultura erudita). Sem falar do uso da ABIN para arapongagem partidária e do financiamento da eleição de Lula por Cuba e pelas FARC, já noticiadas por Veja. Lembre-se, ainda, as chefias do INCRA ocupadas por integrantes do MST, o aumento de tributos em típico ataque à livre iniciativa, a já histórica aliança do PT com o PC do B (que conquistou a chefia da Câmara com Aldo Rebelo: nunca um comunista declarado, da atroz linha albanesa, esteve no terceiro cargo mais importante da República!), e os reais motivos do caixa dois petista: perpetuar-se no poder!

Some-se a isso a influência do Foro de São Paulo – clube dos grupos esquerdistas latino-americanos, do PC cubano aos zapatistas e às FARC –, e a realização de suas metas (“recuperar na América o que foi perdido no Leste Europeu”), entre as quais a guinada à esquerda no Brasil, Uruguai, Argentina, Bolívia e Chile, os quais, com Cuba e a Venezuela, formam um bloco coeso para a ascensão da foice, do martelo e da estrela.

Não devemos nos preocupar? Quem tem olhos para ver...

quinta-feira, março 30, 2006

Ensinamento do Pe. Maciel, LC - 1



Apresentamos aos caros leitores, trechos do farto epistolário do Pe. Marcial Maciel, LC.

Que seja útil!

“Talvez a Santa Igreja esteja vivendo os momentos mais difíceis da sua história. Bem poucas pessoas se dão contra do que significam os velhos inimigos, com os seus rancores, e o novo inimigo com a sua mentira e o seu ódio. Cristo quer que um grupo de almas veja este grande perigo e quer prepará-las para a defesa do seu Reino, a Igreja. Estas almas, estes homens, os homens do Reino, têm de se deixar formar por Cristo num espírito novo que, sem desprezar as fórmulas externas acidentais e usando delas enquanto servirem para realizar o seu empreendimento, se valham de novas forças e de novos métodos de organização e trabalho para conseguir a vitória.” (MACIEL, Pe. Marcial, LC. Carta de 1º de dezembro de 1948)

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“A crise que aflige a Igreja até dilacerar as fibras mais íntimas do coração do Vigário de Cristo é uma crise de fé, que, por desgraça, atinge maior grau de virulência, de dramaticidade e, sem dúvida, também de culpabilidade, na vida e na comunidade daqueles que foram chamados por especial vocação a ser luz, sal e fermento da Igreja e da sociedade. Lança-se mão de diversos fatores para explicar sociologicamente tão mortificante fenômeno religioso da época. Nós sabemos, porém, que quaisquer que sejam as circunstâncias explicativas ou atenuantes que se possam invocar para apreciar essa crescente decadência espiritual, talvez com equívoca simpatia e superficialidade, é inegável que pulsa no fundo dos fatos a falha trágica e misteriosa da liberdade humana, que se esquiva dos planos e dos desígnios de Deus rebelando-se contra eles. Hedonismo e fuga do sacrifício? Egoísmo e inchaço próprio? Haverá de tudo; mas o desenlace prático é sempre a autonomia moral e ideológica, sinônimo de indisciplina, que por sua vez é o clima e o terreno mais adequado para florescer o sincretismo relativista, que ampara e propicia as incoerências de vida, as claudicações e aberrações de todo gênero, que afeiam sem cessar o rosto da Igreja e dilaceram o coração do Pai comum. (...) A fé e a obediência que o Vigário de Cristo sente faltantes nas filas do laicato e do sacerdócio do nosso tempo hão de ser justamente o segredo e a forma mais genuína da nossa fidelidade a Cristo e à sua Igreja. É questão de ser ou de não ser. (...) Em obediência, em espírito de pobreza, no âmbito sexual, em caridade, em piedade, em abnegação..., dócil e intimamente à Sé Apostólica, continuaremos realizando, sem nos turbarmos nem confundir-nos com as tentações e falácias da época, a nossa vocação de cristão e de apóstolos.” (MACIEL, Pe. Marcial, LC. Carta de 27 de maio de 1968)

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“Às vezes vocês encontrarão pessoas ou instituições que, de uma ou outra forma, maquinam contra a Igreja; existem, por exemplo, alguns grupos dentro da própria Igreja que se dedicam a semear a confusão doutrinal e a quebrantar a fé e o afeto das pessoas para com o Papa. Neste caso, o nosso dever é, por um lado, abstermo-nos de julgar ou condenar estas pessoas, e, por outro lado, temos que desmascarar suas estratégias para evitar que causem dano aos nossos irmãos na fé. Respeitamos o ‘pecador’, mas resistimos energicamente ao seu pecado por amor à Igreja e por fidelidade ao nosso compromisso cristão.” (MACIEL, Pe. Marcial, LC. A Caridade Evangélica)

quinta-feira, março 23, 2006

A propósito do Opus Dei

Não sou do Opus Dei. Escrevo, portanto, com certa isenção de ânimo e plena liberdade. Tampouco, embora seja advogado, tenho procuração para defender a Prelazia, hoje tão atacada.


Erros existem em todos os aglomerados humanos. Evidentemente, não está isento o Opus Dei. Ainda assim, os fatos a essa instituição católica imputados estão longe de se constituírem erros. Mais um engano dos que nada conhecem da Igreja.


Entre os mais piedosos, humildes, e afáveis sacerdotes e leigos que conheço estão os do Opus Dei. Também muitas das mais sábias pessoas que são alvo de minha admiração por sua ciência (jurídica, humanística etc) encontram-se inscritas na Obra de Deus (seu nome em português). Daí estranhar as acusações de obscurantismo que a ela alguns atribuem. Ou não conhecem o Opus Dei e seus membros, ou não sabem o que é obscurantismo!


O Opus Dei nada mais é do que uma prelazia pessoal, uma espécie, grosso modo, de diocese sem território, mas em total comunhão com Roma, o Papa e os demais Bispos. Fundada por Josemaría Escrivá, um sacerdote espanhol elevado à honra dos altares, desde seu nascedouro recebeu a aprovação das autoridades eclesiásticas competentes. Não há o que discutir: seu fundador é um santo canonizado, e sua estrutura encontra-se inserida oficialmente não só na Igreja Católica como, por ser Prelazia, em sua organização hierárquica.


Tema dos mais controversos entre aqueles, dos quais falamos, que nada entendem de Igreja, está o da mortificação corporal. Qualquer tipo de penitência é prática tradicional da Igreja. Incluem-se aí o uso do cilício e as disciplinas, chamados pelos incautos flagelação. O Opus Dei não inventou nada disso. Apenas assume formas penitencias históricas entre os católicos. E não obriga ninguém a isso.


Há um propósito na mortificação, nas espirituais (orações impostas pelo confessor, esmolas, atos de piedade etc) e nas diversas modalidades corporais (entre as quais, além do cilício e das disciplinas, estão o jejum, a abstinência de carne e outras). Quem os pratica (e todos os católicos são obrigados a determinadas penitências, mínimas, como a abstinência de carne e o jejum na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa) deseja alcançar certos fins: submeter o corpo à alma e a vontade à inteligência; abster-se de coisas lícitas (carne, por exemplo, ou, no caso do cilício, a ausência da dor) para melhor renunciar às ilícitas, i.e., pecaminosas; unir seus próprios sacrifícios pessoais ao Sacrifício de Cristo na Cruz; reparar as conseqüências dos pecados já perdoados (notem: não é para pagar o pecado, pois ele já foi limpo por Jesus na Cruz e tal perdão se torna presente quando o fiel recebe os sacramentos, sobretudo o Batismo e a Confissão); procurar a santificação não só da alma como do corpo, numa visão integral do ser humano; adquirir disciplina e constância, adestrando a vontade. A aceitação resignada das penas da vida, o cumprimento das penas dadas pelo confessor e a procura de penas livremente (jejuns, abstinências, cilícios, disciplinas) pelo fiel católico não absolutamente nada a ver com masoquismo ou desprezo pela matéria. Muito superficial seria tal leitura.

Os mais custosos sacrifícios, aliás, são empreendidos pelos que querem a beleza exterior e a saúde do corpo. Quantas dietas radicais, quantas máquinas de musculação cujas dores, muitas vezes, são bem maiores do que a ocasionada pelo cilício (usado sempre com moderação e sob rígida orientação de um diretor espiritual que pode proibir a mortificação, inclusive), e tudo em nome de coisas que passam. Não se pode almejar, por sacrifícios da mesma ordem e com semelhantes (ou menores) dores, a beleza interior e a saúde da alma?

Atacar os filhos é ferir a mãe. Acusar o Opus Dei, no fundo, é desmerecer a Igreja, que a louvou, incentivou e aprovou. Católicos de verdade, em sã consciência, não se podem deixar levar pela onda. Mesmo não sendo membros da Obra, todos nós, participantes de paróquias e movimentos, somos agredidos quando uma instituição, tão cara ao Papa e tão fiel à doutrina como ela, é caluniada.

Socialismo, o inimigo do povo

Apresentam as esquerdas uma suposta salvação aos operários e camponeses: o socialismo. Enganam-se. Ou, até mesmo, enganam-nos.
Está na base da doutrina socialista querer “abolir a propriedade privada” (Eric Voegelin, Estudos de Idéias Políticas, trad. Mendo Castro Henriques), pois não se coaduna com seu outro princípio vital, o igualitarismo. Usar, gozar e dispor livremente – o que vem a ser o direito de propriedade – é uma afronta à justiça na ótica dos que postulam o socialismo. Erram, no entanto, e gravemente.
Acabar com a propriedade não atingirá somente os ricos. Também o povo simples sofrerá. Faltando os empregadores, onde trabalhará o proletariado que o socialismo diz defender? A sociedade é natural e organicamente constituída de tal maneira que o ataque a um de seus pilares promove a destruição do edifício. Disso sabem os próceres comunistas e socialistas, os quais de ninguém escondem a ânsia revolucionária – violenta em Lênin, sutil e disfarçada em Gramsci – a pretexto de ajuda e libertação do pobre.
Pelejando contra o rico, porém, atinge-se, com efeito, o pobre que deveria ser protegido pelas esquerdas – já que se arrogam em seus exclusivos paladinos. Aliás, mesmo que só o rico sofresse com a extinção da propriedade – o que sabemos ser mentira –, ainda assim seria a medida cumulada de injustiças.
O ódio socialista à propriedade é tanto, que nos seus planos de reforma agrária os assentados exercem mera posse sobre os imóveis rurais. Noutros termos, após a desapropriação – paga com preço injusto, configurando-se em um confisco prático, outro desrespeito ao legítimo domínio –, o Estado torna-se proprietário da gleba, da qual o trabalhador rural (em nome de quem foi feita a reforma) só tem a posse. O sem-terra continua sem a terra, pois ela é do Estado. Assim, a doutrina socialista não vê com bons olhos o indivíduo proprietário (rico ou pobre), mas aplaude o Estado que deseja sê-lo, em que pese não ser essa sua função e a despeito de sua incompetência para a gerência de coisas normalmente privadas.
Tirar a terra dos ricos para dar aos pobres, pura e simplesmente já é imoral, um atentado à justiça (e aos próprios pobres, indiretamente, pois isso afeta negativamente a produção agrícola, diminui o PIB, gera desemprego etc). Não contentes com isso, os socialistas vão mais longe: além de tirar dos ricos, não dão aos pobres.
Por pior que seja o patrão particular, não chegará perto, em crueldade, ao patrão estatal totalitário, um tirano que não hesitará em “usar, gozar e dispor” não só de suas novas terras, como proprietário, porém dos próprios assentados, reféns da ditadura vermelha.

domingo, fevereiro 19, 2006

Os erros de Veja sobre a encíclica papal

Em sua edição de 1o de fevereiro passado, a revista Veja, tratando da primeira encíclica de Bento XVI, comete uma série de erros (cf. “É o amor...”, p. 102), os quais pretendo refutar.

Insinua, antes de tudo, o conhecido magazine uma suposta diferença de temperamento entre o antes Cardeal Ratzinger e o agora Papa Bento. Aquele um linha-dura, um inquisidor, um defensor da ortodoxia, um intransigente, um intolerante, “uma fera”, no dizer do próprio semanário. Coroado Pontífice, mudou-se em um afável senhor, um delicado teólogo, um elegante poeta, em “uma doce criatura”, ainda conforme Veja.

Nada mais absurdo. Ratzinger não mudou. Continua protegendo a ortodoxa doutrina católica. E isso é ótimo! A dureza combina bem com a delicadeza, a intransigência com o diálogo. Há situações que exigem do Papa firmeza, outras tolerância. O Papa continuará sendo o defensor da Fé, o linha-dura se assim quiserem denominar. Sua missão não é capitular nos dogmas e na moral, mas defendê-la, guardá-la, transmiti-la. Precisando usar de dureza para isso, o fará, graças a Deus.

Por outro lado, se o Papa continua “uma fera” no campo da Fé, nunca o foi em outros terrenos. Os que apresentam Ratzinger como um antipático e incapaz de dialogar estão simplesmente enganados.

São duas circunstâncias distintas! Ao contrário do que a maior parte da imprensa mostra, o Cardeal sempre foi extremamente gentil, sorridente, educadíssimo e um refinado pensador. Nunca se negou a uma boa conversa, e era amante do direito do defesa (que ele concedeu, sim, ao ex-frei Leonardo Boff). Unânime tal juízo entre os que o conhecem desde o cardinalato. Se usarmos as expressões da revista, Ratzinger não se converteu em uma doce criatura, pelo modesto fato de que já o era.

Ao lado dessa docilidade no trato social, Ratzinger era duro. Todavia, duro com o erro, com o pecado, não com o pecador. Como falei: situações distintas. E estas pedem respostas distintas. Qual mãe de família, das mais frágeis, meigas e carinhosas, não se transforma em uma bravia guerreira para defender seus filhos? A imprensa exagera a combatividade do então Cardeal, esquecendo sua doçura; e também a doçura do hoje Papa, ignorando a combatividade que, ainda bem, persiste.

Bento XVI nem era antes só uma “fera” nem agora só um “doce”. Ele é o Papa: “doce” quando necessário, “fera” quando preciso. E nisso não existe mudança, repito, pois desde os tempos em que era Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé (e antes mesmo, quando Bispo e presbítero), Joseph Ratzinger conjugava a doçura pessoal com a combatividade da missão.

Outro erro na reportagem é a surpresa diante do tema da encíclica, como se o amor fosse estranho à Igreja. Lendo o documento, temos uma prova claríssima de que ele é a base da Igreja. Só o preconceito contra a necessária dureza de Ratzinger é que impede os jornalistas de ver com naturalidade o assunto do amor em um trabalho de seu punho. Nos livros que escreveu quando era Cardeal, o alemão já acentuava o tema do amor. Quantos, entre os que comentam sobre o Papa, já os leram? Aliás, leram a encíclica em questão?

Ainda um terceiro erro. Mencionado o tópico da Encíclica Deus Caritas Est que discorre sobre o amor carnal, Veja alfineta: “Se o assunto é complicado para qualquer pessoa, imagine-se para o chefe de uma igreja que, como ele reconhece indiretamente, historicamente tratou o corpo como inimigo da alma.” Aqui a revista se supera: tal terceiro erro consegue desdobrar-se em dois! São duas mentiras em uma!

A Igreja nunca “tratou o corpo como inimigo da alma”. Sua doutrina é clara em afirmar que são uma só unidade substancial. Não fosse assim, não creríamos na Encarnação. Como a Igreja trataria o corpo como inimigo da alma, se ensina que o Verbo, o Filho de Deus, Se fez carne? Deus assumiu não só uma alma humana, em Cristo, mas também um corpo humano. E após Sua morte, Cristo ressuscitou, i.e., reuniu corpo à alma. Também nós ressuscitaremos um dia. Como a Igreja trataria o corpo como inimigo da alma, se ela afirma que nos últimos tempos eles se reunirão? Se o corpo é inimigo da alma, a felicidade estaria na sua libertação daquele. E não é o que cremos, e sim “na ressurreição da carne”. Como a Igreja trataria o corpo como inimigo da alma, se uma de nossas mais preciosas verdades é a de que a hóstia consagrada é o Corpo de Cristo? Adoraríamos o Corpo de Cristo, se ele fosse inimigo da alma?

O que a Igreja Católica ensina é a subordinação do corpo à alma, a sua inferioridade em relação a esta. Corpo é matéria, e a alma a forma do corpo, o que lhe dá coerência. O corpo é inferior à alma. Sem embargo, ser inferior não é ser inimigo. Pelo contrário, ainda que inferior, faz parte de uma única substância. Corpo e alma não têm sentido separados: é a morte. Tanto que voltarão a união no Juízo Final. Nisso não precisa crer Veja. Mas seria correto reconhecer que este é o ensino da Igreja, e não, segundo faz crer o artigo, uma suposta inimizade entre forma e matéria, entre alma e corpo. Veja não precisa ser católica. Deve, todavia, expor o que crê a Igreja Católica de modo verdadeiro, e não inventando mentiras.

Quiséramos ser mais dóceis com Veja, porém, diante do que acabamos de expor, não vemos outro rótulo para caracterizar sua acidez contra a Igreja do que o de pouca honestidade intelectual. Falta à verdade é pecar contra a caridade... E caridade é o tema da encíclica.

De outra sorte, Veja mente ao dizer que o Papa reconhece que a Igreja tratou o corpo como inimigo da alma. E toma por base o texto do próprio documento do Santo Padre: “Hoje não raro se reprova ao cristianismo do passado ter sido adversário da corporeidade; de fato, sempre existiram tendências nesse sentido.”

Quanta distorção das palavras do Sumo Pontífice! Veja força um entendimento, empresta ao texto um sentido que não resiste à mera leitura do mesmo.

Em nenhum momento, reconheceu o Papa que a Igreja tratou o corpo como inimigo da alma. Não há essa expressão ou semelhantes. Simplesmente, o Papa dá dois dados. O primeiro é que se tornou moda acusar a Igreja de inimiga do corpo (e assim o Papa está atacando a própria revista Veja!). Bento XVI defende a Igreja, mostrando como alguns querem passar a mensagem de que o cristianismo em algum momento pregou ser o corpo inimigo da alma – um erro manifesto, como vimos. Ora, Veja mesmo encontra-se, como lido acima, entre esses “alguns”. A citação do Papa é, pois, um tiro no pé.

O segundo dado é o reconhecimento não de que a Igreja tratou o corpo como inimigo da alma – pois não se reconhece o que nunca aconteceu –, mas de que “existiram tendências nesse sentido”. Muito diferente! Também hoje existem “tendências” para ordenar mulheres, para liberar o aborto, para um falso ecumenismo, e nem por isso representam a doutrina da Igreja. “Tendências” não são o Magistério. Se, no passado, um Bispo Tal defendeu a tese X, nem por isso tornou-se o ensinamento eclesiástico oficial. O que o Romano Pontífice quer dizer – e isso está cristalino, exceto para Veja – é que no meio do trigo há joio, na melhor tradição cristã.

Por último, o erro grotesco do derradeiro parágrafo do artigo do conceituado hebdomadário. Segundo a revista, a encíclica deveria ter sido publicada antes, e a demora deu-se porque Bento XVI “não conseguia conciliar os dois temas, o amor e a caridade.” Como assim, dois temas? A redação de Veja está mal-informada: amor e caridade são a mesma coisa. São sinônimos. Tanto que os textos clássicos de “atos de caridade” (orações conhecidas por todos os católicos) têm por conteúdo demonstrar nosso amor a Deus e ao próximo. Os dois preceitos da caridade, por sua vez, rezam que devemos amar a Deus sobre todas as coisas, com todo o nosso coração, toda a nossa alma, todo o nosso intelecto, e todas as nossas forças, e ao próximo como a nós mesmos, por causa de Deus. Caritas e amor são a mesmíssima coisa. Todos – literalmente todos – os teólogos ensinam a sinonímia.

Não é preciso, entretanto, ir à teologia. Basta um conhecimento rudimentar da língua portuguesa para saber que amor e caridade não são “dois temas”, mas duas palavras para descrever idêntico sentido, dois vocábulos para a mesma significação. E, ao contrário do que (des)informa Veja, não “acabaram ficando separados” na encíclica, pois não se pode separar o que é único. A separação de tratamento se deu entre amor divino e amor humano. Ambos, porém, são amor, ambos são caridade, ambos são a mesma coisa.

O Papa não surpreendeu os católicos. Surpreendeu, no máximo, os que nada entendem das coisas da Igreja, sempre ávidos na inútil tentativa de desestabilizá-la, pois não sabem que as portas do inferno não prevalecerão!

domingo, janeiro 29, 2006

Intransigência e diálogo

Em revista de circulação nacional, dessas que tratam da História, pretendendo traduzir as lições dos intelectuais e acadêmicos para o leitor comum, deparo-me com a chamada relativa à Igreja Católica: da intransigência ao diálogo.

Pela construção do título, a impressão passada é de que, se nos séculos precedentes, com destaque ao período XV-XIX, a Igreja foi intransigente, mostrou-se, na segunda metade da centúria de número XX, mais aberta ao diálogo com os que não comungam de sua fé. Assim, forma-se no leitor a idéia de que a Igreja “antiga”, “de antes”, “tradicional”, ou “pré-conciliar” era dura demais, e de que a “nova”, sim, é moderna. Mais do que isso, abre as portas para outra tese, a de que a Igreja muda, crê de tal modo num instante e de outro num distinto momento. A partir daí, é evidente que alguns serão levados ao seguinte raciocínio: a Igreja “de antes” era intolerante, e a “de hoje” dialoga; ora, isso demonstra que ela mudou; logo, os pontos por ela sustentados que ainda não modernos o suficiente (condenação do aborto, da eutanásia, da desvinculação entre os fins unitivo e procriativo do Matrimônio, da morte de embriões, e da união entre pessoas do mesmo sexo; a negação da ordenação às mulheres; a infalibilidade papal etc) podem, um dia, ser mudados; e, se podem, é direito dos descontentes lutar por tal mudança.

Ocorre que essa operação é uma falácia. Ambas as premissas estão erras (e para caracterizar a falácia bastaria uma), contaminando o teorema, a conclusão e, enfim, todo o silogismo. A Igreja não muda, pois é a depositária da Revelação divina, e Deus não muda. Concedamos para fins de debate que ela esteja errada e não seja a instituição fundada e querida por Cristo. Ainda assim, por crer-se infalível e dirigida por Deus, não mudaria, pois resultaria em confissão de sua falibilidade, restando não mais haver razão de existir. Tem, ao menos, direito de portar-se de modo coerente: se defende não errar e possuir a correta doutrina, natural que a mantenha intacta.

Não há uma Igreja intolerante e uma Igreja do diálogo. Há, isto sim, situações que exigem da Igreja intolerância e situações que exigem diálogo. Antes de excomungar Lutero, v.g., o Papa Leão X travou intenso diálogo com ele, procurando sua emenda. Intolerante foi com o pecado, mas dialogou com o pecador, como é atestado pela Bula Exsurge Domine. A defesa do dogma e da moral requer firmeza, pois a verdade não pode ser sacrificada em nome da caridade. Já o modo de transmitir o dogma e a moral pode ser adaptado às circunstâncias, uma vez que também a caridade não pode ser sacrificada em nome da verdade. Caridade e verdade andam lado a lado, e algumas vezes é pedido da Igreja uma postura mais firme. Outras, o diálogo é a melhor resposta, sem, contudo, mutilar-se a doutrina. Não podemos confundir mudança de visão pastoral e de diplomacia (que podem ser alteradas) com mudança doutrinária (impossível, face à sua indefectibilidade). Na pregação da verdade, pode a Igreja ser intransigente ou propensa ao diálogo, segundo as necessidades; quanto à verdade, em si, sua defesa sempre requer intransigência, como ensinado pelo Cardeal Pie em seu sermão na Catedral de Chartres, em 1841: Recriminar à Igreja Católica sua intolerância dogmática, sua afirmação absoluta em matéria de doutrina é dirigir-lhe uma recriminação muito honrável. É recriminar à sentinela ser muito fiel e muito vigilante, é recriminar à esposa ser muito delicada e exclusiva.”

Se no século XIX, por exemplo, a Igreja mostrou-se mais dura foi para fazer frente às táticas de seus inimigos. Hoje ela não renuncia à batalha. Apenas faz do diálogo mais uma arma, sem renúncia à sadiamente intolerante defesa da verdade. E, desse modo, com ou sem seguidores, continua fiel a Deus e a si mesma.

sábado, janeiro 21, 2006

Tomás de Aquino, glória da Igreja

O dia 28 de janeiro é a memória litúrgica de Santo Tomás de Aquino, o Doutor Angélico, orgulho da Ordem dos dominicanos, o maior teólogo da Igreja e também seu insuperável filósofo. Entre suas obras figuram a monumental Suma Teológica, a apologética Suma contra os Gentios, o Compêndio de Teologia (um de meus livros de cabeceira), inúmeros opúsculos de doutrina e filosofia, comentários a Aristóteles (de quem foi o grande intérprete medieval, contra Averróis) e a Pedro Lombardo, sermões, catequeses, debates, livros sobre dogma e moral, explicações à maioria dos textos bíblicos, glosas jurídicas, teorias políticas, além da composição de toda a liturgia de Corpus Christi.

Sem dúvida, o gênio do cristianismo!

Não é por outro motivo, exceto a penetração de seu raciocínio e a lógica na exposição de seus argumentos, que a Igreja manda, em seu Código de Direito Canônico, que na formação clerical os alunos aprendam a doutrina “tendo por mestre principalmente Santo Tomás.” (cân. 252, § 3) Norma, bem o sabemos, infelizmente nem sempre obedecida.

Todos os Papas, a partir dele, não cessaram de honrá-lo e recomendar seu método e seu ensino. Destacam-se São Pio V, que em 1567 o declarou Doutor da Igreja; São Pio X, com seu Angelici Doctoris; e Pio XI, o qual dedicou toda uma encíclica, Studiorum Ducem, ao Aquinate. Nela, assim se expressava o Pontífice: “A união da doutrina com a piedade, da erudição coma virtude, da verdade com a caridade, foi verdadeiramente singular no Doutor Angélico (...).”

É em Tomás que se encontra a mais sublime defesa da razão, não como inimiga da fé, mas sua aliada. João Paulo II o sintetizou na sua Fides et Ratio: Santo Tomás “argumentava que a luz da razão e a luz da fé procedem ambas de Deus, e portanto não podem contradizer-se entre si.” (nº 43) Justamente por isso, “a Igreja sempre propôs a Santo Tomás como mestre e modelo do modo correto de fazer teologia.” (Fides et Ratio, nº 3)

O “apóstolo da verdade” (Paulo VI. Carta Lumen Ecclesiae, nº 10) é exemplo não só do pensamento estritamente religioso, como também da aplicação dos ditames da fé à ciência, por meio de sua filosofia incomparável.

Por sua vez, o Concílio Vaticano II, na Declaração Gravissimum Educationis (cf. nº 10), reafirma a autoridade de Tomás. Desde sua morte, outrossim, concílio algum, incluindo-se o acima mencionado, ousou apartar-se de seu magistério, e mesmo o de Trento colocou a Suma, que escrevera com tanto esmero e devoção, ao lado da Escritura para guiar os Padres Sinodais.

Que do céu rogue por nós este servo de Deus, proclamado por Leão XIII padroeiro dos estudantes, na Encíclica Aeterni Patris, onde, enfim, expõe preciosa lição: “Tomás recolheu suas doutrinas e compôs com elas um conjunto orgânico, as dispôs com uma ordem maravilhosa e as acrescentou a tal ponto que se o considera, com razão, como o defensor especial e a glória da Igreja Católica.”


No passo da Igreja

Diante da complexidade do fenômeno Vaticano II e da crise que se seguiu ao Concílio, adotam alguns católicos geralmente uma das linhas abaixo, com maior ou menos nuance:

- ou consideram-no liberal, e, por isso, o criticam acidamente e ao Magistério a ele posterior (os tradicionalistras, afinados com Marcel Lefébvre);

- ou, ainda considerando-o liberal, louvam-no justamente por isso, rechaçando dois mil anos de Magistério, como se a Igreja houvesse sido refundada no período conciliar, sem dar maior importância à Tradição (os liberais, progressistas, modernistas, teólogos da libertação);

- ou, enfim, consideram o Concílio tímido face às mudanças que gostariam fossem operadas, como se devesse “avançar” nas modas teológicas, alinhando a Igreja ao mundo (os ultraliberais, modernistas e progressistas radicais, teólogos da libertação ainda mais raivosos).

Não compactuo com nenhuma dessas correntes. Aliás, os católicos de verdade não podem filiar-se a elas. A Igreja não tem facções. É católica, universal. É una: una na doutrina, e una no governo. O Vaticano II não foi liberal, e tampouco o vejo como isento de termos dúbios. Foi importante, mas a Igreja e sua doutrina são a ele anterior.

Ainda que, em si, o Concílio não seja progressista (pois a Igreja é infalível, e o progressismo um erro), seus textos podem ser distorcidos (e de fato o foram!): para atacar a Igreja “de antes” (liberais) ou “de agora” (tradicionalistas). “Estou convencido”, diz o Papa Bento XVI, “de que os danos não são atribuíveis ao Concílio ‘verdadeiro’, mas ao desencadear-se, no interior da Igreja, de forças latentes agressivas (...), [e] no exterior, ao impacto de uma revolução cultural (...).” (A fé em crise?, p. 17)

Quanto às suas passagens de difícil interpretação, e aparentemente contraditórias com pronunciamentos eclesiásticos anteriores, só ao Magistério cabe a palavra final. No que tem o Vaticano II de clareza, resta-nos o assentimento da fé (devido à suprema autoridade de ensino da Igreja), e a obediência religiosa (devido à suprema autoridade de governo). No que tem de dubiedade, deixemos que a Igreja resolva, ilumine. Não é nossa função criticá-lo, nem interpretá-lo fora da Tradição ou do Magistério (anterior ou posterior).

“(...) defender hoje a Tradição verdadeira da Igreja significa defender o Concílio. (...) É ao hoje da Igreja que devemos permanecer fiéis, não ao ontem nem ao amanhã (...).” (op. cit., p. 18)

Andemos ao passo da Igreja, nem à frente nem atrás. Almejemos estar ex corde Ecclesiae, no coração da Igreja, certos de que agradaremos a Cristo pela doce sujeição ao Seu Vigário, o Papa. Esta a militância genuína que se nos é pedida: a fidelidade e a adesão ao Romano Pontífice e à doutrina de sempre da Igreja, reafirmada (e não negada) pelo Concílio, entendido este, porém, nos seus devidos termos, “[s]em reservas que os amputem. E sem arbítrios que os desfigurem.” (op. cit., p. 18)


segunda-feira, janeiro 02, 2006

Laicidade e Laicismo

Excelente artigo do Pe. Francisco Faus, publicado no site da Quadrante.

Recomendação d'O Ultramontano. Favor não confundir com o NOSSO artigo, denominado "Laicismo e laicidade" (os termos estão, como é visível, contrariamente dispostos).

Cân. 750 – § 1. Deve-se crer com fé divina e católica em tudo o que se contém na palavra de Deus escrita ou transmitida por Tradição, ou seja, no único depósito da fé confiado à Igreja, quando ao mesmo tempo é proposto como divinamente revelado quer pelo magistério solene da Igreja, quer pelo seu magistério ordinário e universal; isto é, o que se manifesta na adesão comum dos fiéis sob a condução do sagrado magistério; por conseguinte, todos têm a obrigação de evitar quaisquer doutrinas contrárias.

§ 2. Deve-se ainda firmemente aceitar e acreditar também em tudo o que é proposto de maneira definitiva pelo magistério da Igreja em matéria de fé e costumes, isto é, tudo o que se requer para conservar santamente e expor fielmente o depósito da fé; opõe-se, portanto, à doutrina da Igreja Católica quem rejeitar tais proposições consideradas definitivas.

Cân. 752 Não assentimento de fé, mas religioso obséquio de inteligência e vontade deve ser prestado à doutrina que o Sumo Pontífice ou o Colégio dos Bispos, ao exercerem o magistério autêntico, enunciam sobre a fé e os costumes, mesmo quando não tenham a intenção de proclamá-la por ato definitivo; portanto os fiéis procurem evitar tudo o que não esteja de acordo com ela.